O ano de 1990 foi especialmente delicado para a população brasileira por conta da crise política econômica vivida no país daquele início de década. O clima era de desesperança e incertezas, em torno do confisco financeiro gerado pelo Plano Collor.
A “Rádio Gazeta” vinha de uma trajetória de excelentes coberturas esportivas e do jornalismo geral, além do talentoso número de radialistas nas equipes de redação, técnica, produção e apresentação. Naquele cenário, mais uma Copa do Mundo. A situação era crítica. Um alento seria a vitória da Seleção Brasileira, mas esta não aconteceu, embora tenha tido ganhos no início do mundial:
(((E o Brasil tenta chegar… com a bola para Careca… Tiroli tiroli… tiroli tiroli… e que gol… que golasso… Careca… Careca… um pra lá… dois para cá… tiroli tirolá… tiroli tiroli… Careca… Careca… Brasil, um a zero… massageia o ego da galera… Careca explodiu o ataque brasileiro… Brasil: um a zero, aos quarenta minutos do primeiro tempo de partida… num lindo drible em cima do goleirão… um pra lá… dois…pra cá… numa linda bola no meio de campo… Careca… driblou com perfeição… o primeiro do Brasil… bombom de bola o garotinho… essa emoção que contagia o país e que eu quero mais… Mete bronca Brasil!))).
Narração de Osmar Santos, no dia 10 de junho de 1990, registrando o primeiro gol do Brasil, na Copa do Mundo daquele ano, contra a Suécia.
Era empolgante a desenvoltura do narrador Osmar Santos. Ele se superava a cada jogo, fosse em qualquer tipo de torneio. No dia 10 de junho de 1990, o profissional, apelidado de “Garotinho”, registra o primeiro gol do Brasil, na Copa do Mundo, contra a Suécia. A narração descrita acima ocorre pelas ondas da rádio Record AM, de São Paulo, e retransmissão em parceria com a rádio Gazeta AM.
Esta emissora contava com a sonoplastia de Benedito Leite da Costa, o “Fubá”, que cuidadosamente preservou o arquivo sonoro desta Copa ocorrida na Itália, e de tantas outras, possibilitando uma reconstituição histórica para uma compreensão do que ocorrera naquele período. Foi a décima quarta edição da Copa do Mundo FIFA de Futebol, com início no dia 8 de junho indo até 8 de julho de 1990, com vinte e quatro seleções na disputa.
A equipe verde e amarela vinha sendo bastante criticada. O técnico do Brasil, Sebastião Lazaroni, comandava um grupo com vários conflitos nos bastidores, diante de comentários sobre disputas referentes à titularidade e questões financeiras. Seria algum reflexo da situação econômica do país? Poderia ser. Foi o ano do confisco, no chamado “Plano Collor”.
Os jogos na Itália foram realizados nas cidades de Milão, Roma, Nápoles, Turim, Bari, Verona, Florença, Cagliari, Bologna, Udine, Palermo e Genova. Houve três vitórias e uma derrota da seleção verde e amarela. Todas as partidas do time Canarinho foram em Turim, no estádio Delle Alpi. A primeira contra a Suécia, com dois gols marcados pelo jogador Careca.
O time sueco marcou um gol feito pelo jorgador Tomas Brolin. No jogo com a Costa Rica, o Brasil vence por um a zero, com gol do atacante Muller. O outro jogo vencedor foi com placar de um a zero contra a Escócia, também com gol do jogador Muller. Porém, nas oitavas de final, contra a Argentina, o time brasileiro luta bastante, mas perde por um a zero, com um gol de Claudio Caniggia, a partir de um passe do jogador Maradona. Nesta partida um dos destaques do Brasil foi o lateral esquerdo Branco, que teve significativa marcação em campo pelos argentinos.
“Foi a pior Copa de todos os tempos”, declara a radialista Regiani Ritter, veterana e pioneira entre as mulheres nas coberturas esportivas.
Na época, ela atuava na TV Gazeta. Logo em seguida se notabiliza também na rádio Gazeta AM e se consagra como nome de troféu. A ACEESP, Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, criou em 2010, o troféu “Regiani Ritter”, para premiar anualmente as jornalistas de destaque na cobertura esportiva. Para Regiani, que no presente momento comanda o programa “Disparada no Esporte”, na rádio Gazeta AM, aquele mundial marcou uma mudança de abordagem das copas: “A copa de 1990 foi um marco divisor entre o futebol arte e o futebol força.
Foi nesse período, com exceção da seleção de Camarões, que todas as equipes que disputavam o mundial adotaram o futebol força. Quando eu vi a escalação e formato da seleção brasileira, com três zagueiros e dois volantes eu disse: acabou o futebol do Brasil. Jogávamos com três zagueiros que batiam cabeça”, afirma.
A análise de Regiani Ritter se assemelhava aos comentários dos demais críticos do assunto, em debates que se alastravam nas mesas esportivas do rádio, da televisão e dos meios impressos. Um dos endereços mais tradicionais da cidade de São Paulo, avenida Paulista, número 900, conhecido como cartão postal, abriga a rádio Gazeta AM, emissora da Fundação Cásper Líbero, mantenedora também do jornal A Gazeta Esportiva (e TV Gazeta).
Estes veículos de comunicação de tradição e muito prestígio no ambiente esportivo. Ali, na mencionada emissora de rádio, um grupo de renomados profissionais debatia a Copa do Mundo. “Eu me lembro da briga pela premiação dos jogadores. Este era o assunto principal. Parecia que os atletas queriam uma premiação maior.
Brigando por dinheiro, se perde o foco no futebol”, declara Regiani Ritter.
Esta voz feminina estava entre grandes craques da crônica esportiva: Alberto Helena Júnior, Cledi Oliveira, Eduardo Barazal, Ennio Rodrigues, Fábio Luís, João Guilherme, Joarez Soares, Jorge Vinícius, José Diniz
Neto, Marcelo Batista, Marcelo Batista, Marcelo Di Lallo, Marcos Roberto, Marcos Roberto, Mauro Beting, Pedro Luiz Júnior, Ricardo Wagner, Roberto Avallone, Vital Bataglia, Zancopé Simões.
Este texto, assim como os demais, referindo-se à cada década de história da “Rádio Gazeta”, não termina aqui. Novas pesquisas estão sendo realizadas sobre o resgate histórico, dessa emissora de intensa trajetória e de uma numerosa lista de talentos e incontáveis glórias.